quinta-feira, 7 de março de 2013

Chorões

Ontem morreu o Chorão, vocalista do Charlie Brown, e foi a maior comoção nas redes sociais. Muita gente escrevendo sobre o que lhes representa a banda e suas músicas, citando trechos das canções, entre outras manifestações, ora singelas, ora emocionadas.
O que eu não consegui entender foi a perplexidade de algumas pessoas perante tais manifestações. Afinal, como seres humanos, somos de natureza deveras emotiva, marcados por pessoas, situações e épocas que nos vem à lembrança, muitas das vezes, através das músicas. É por esse motivo óbvio que quase ninguém se manifestou por causa da renuncia do papa, da morte do Hugo Chaves ou do Niemeyer. Eles nada, ou quase nada tem a ver com nossa experiência subjetiva do dia-a-dia.
               
 Não vou nem me ater aos que comemoraram, ou caçoaram da morte do Chorão, mas àqueles que julgaram exageradas as manifestações, questionando o conteúdo das músicas, ou  o valor estético, seja por sua poesia ou musicalidade.
Quantas dessas pessoas tem um conhecimento razoável ou básico sobre música ou poesia? Sabe diferenciar escala maior de uma menor, sabe o que é uma dissonância, montar um acorde, ou até o que é um acorde? Quantas tem a mínima condição de saber quais os recursos utilizados e qual a complexidade da harmonia/melodia das músicas do Charlie Brown?
Poesia? Quem lembra o que é um decassílabo heroico, sílaba métrica ou mesmo como se compõe um soneto? Todo mundo sai por aí trocando Bandeira por Quintana, Drummond por Pessoa e outras bizarrices até que tudo acabe em Clarice Lispector.
E o conteúdo? Cantar que “todos moramos num submarino amarelo” pode, mas “que meu escritório é na praia e eu to sempre na área”, não? Qual o critério?
                
Chorão e o Charlie Brown tiveram o mérito de colocar em melodias de fácil absorção, letras com uma linguagem acessível e com mensagens que soavam bastante sinceras e que faziam sentido a muita gente. Quem me conhece sabe que eu curto muito mais Beatles e bandas dos 60s/70s a Charlie Brown, mas vamos fazer umas comparações:
                
“Felicidade é poder estar com quem você gosta em algum lugar”
“Não ganhar, nem perder, mas procurar evoluir”
Um dia a gente cresce, conhece nossa essência, ganha experiência, e aprende o que é raiz, então cria consciência
               
  “All you need is Love, Love is all you need”
  “We are the champions, my friend, and we’ll keep on fighting till the end”
  “You can’t always get what you want, but if you try sometimes, you can get what you need”
                
E aí, qual a diferença?
                
Aos que repudiaram as atitudes e estilo de vida do Chorão: Todos temos nossos momentos bons e ruins. Pela fama e dinheiro, alguns tem acesso mais fácil a meios de “superar” os momentos ruins. Com certeza o mais fácil nem sempre é o mais correto, ou o melhor, além do que, todo mundo tem sua história e teve condições diferentes de abraçar o mundo e lidar com seus problemas. Ao mesmo tempo, todos nós somos parte altruístas e parte egoístas. Chorão, em seus momentos bons, dedicou-se, a sua maneira, escrever e cantar coisas que fizeram bem a um monte de gente, que ouvia uma melodia agradável indo pro trabalho, lembrava de um namoro, de uma época com os amigos, fazia refletir, mesmo com palavrões e versos simples.
                
Aos que só criticam, sugiro que pensem o quanto fizeram por qualquer pessoa até hoje. Ou melhor, que pensam que estão fazendo pra melhorar, escolhendo o caminho mais conveniente (inclusive, e sobretudo, financeiramente) e na verdade só atrasam o progresso. Por fim: quantos, em alguma parcela, como um Chorão, seja através da música ou o que for, não gostariam de achar um meio de tentar mudar o que tá aí?
               
“Mas quando não se pode mais mudar tanta coisa errada...vamos viver nossos sonhos, temos tão pouco tempo”

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.