O que
eu não consegui entender foi a perplexidade de algumas pessoas perante tais manifestações.
Afinal, como seres humanos, somos de natureza deveras emotiva, marcados por pessoas,
situações e épocas que nos vem à lembrança, muitas das vezes, através das
músicas. É por esse motivo óbvio que quase ninguém se manifestou por causa da
renuncia do papa, da morte do Hugo Chaves ou do Niemeyer. Eles nada, ou quase
nada tem a ver com nossa experiência subjetiva do dia-a-dia.
Não vou
nem me ater aos que comemoraram, ou caçoaram da morte do Chorão, mas àqueles
que julgaram exageradas as manifestações, questionando o conteúdo das músicas,
ou o valor estético, seja por sua poesia
ou musicalidade.
Quantas
dessas pessoas tem um conhecimento razoável ou básico sobre música ou poesia?
Sabe diferenciar escala maior de uma menor, sabe o que é uma dissonância,
montar um acorde, ou até o que é um acorde? Quantas tem a mínima condição de
saber quais os recursos utilizados e qual a complexidade da harmonia/melodia
das músicas do Charlie Brown?
Poesia?
Quem lembra o que é um decassílabo heroico, sílaba métrica ou mesmo como se
compõe um soneto? Todo mundo sai por aí trocando Bandeira por Quintana,
Drummond por Pessoa e outras bizarrices até que tudo acabe em Clarice
Lispector.
E o
conteúdo? Cantar que “todos moramos num submarino amarelo” pode, mas “que meu
escritório é na praia e eu to sempre na área”, não? Qual o critério?
Chorão
e o Charlie Brown tiveram o mérito de colocar em melodias de fácil absorção,
letras com uma linguagem acessível e com mensagens que soavam bastante sinceras
e que faziam sentido a muita gente. Quem me conhece sabe que eu curto muito
mais Beatles e bandas dos
60s/70s a Charlie Brown, mas vamos fazer umas comparações:
“Felicidade é poder estar com
quem você gosta em algum lugar”
“Não ganhar, nem perder, mas
procurar evoluir”
“Um
dia a gente cresce, conhece nossa essência, ganha experiência,
e aprende o que é raiz, então cria consciência”
“All you
need is Love, Love is all you need”
“We are the champions, my
friend, and we’ll keep on fighting till the end”
“You can’t always get what you
want, but if you try sometimes, you can get what you need”
E aí, qual a diferença?
Aos que
repudiaram as atitudes e estilo de vida do Chorão: Todos temos nossos momentos
bons e ruins. Pela fama e dinheiro, alguns tem acesso mais fácil a meios de “superar”
os momentos ruins. Com certeza o mais fácil nem sempre é o mais correto, ou o
melhor, além do que, todo mundo tem sua história e teve condições diferentes de
abraçar o mundo e lidar com seus problemas. Ao mesmo tempo, todos nós somos
parte altruístas e parte egoístas. Chorão, em seus momentos bons, dedicou-se, a
sua maneira, escrever e cantar coisas que fizeram bem a um monte de gente, que
ouvia uma melodia agradável indo pro trabalho, lembrava de um namoro, de uma
época com os amigos, fazia refletir, mesmo com palavrões e versos simples.
Aos que
só criticam, sugiro que pensem o quanto fizeram por qualquer pessoa até hoje. Ou melhor, que pensam que estão fazendo pra melhorar,
escolhendo o caminho mais conveniente (inclusive, e sobretudo, financeiramente)
e na verdade só atrasam o progresso. Por fim: quantos, em alguma parcela, como
um Chorão, seja através da música ou o que for, não gostariam de achar um meio
de tentar mudar o que tá aí?
“Mas quando não se pode mais mudar tanta coisa errada...vamos viver nossos sonhos, temos tão pouco tempo”