Há 10 dias estou em Barcelona. Ver uma cidade tão bem
comunicada por metrô, trânsito tranquilo, vivenciando a medicina de família e
comunidade em sua máxima potência me dá ganas de dar meus pitacos nas iminentes
eleições municipais do Brasil. Mas não, hoje é sábado a noite, 22h, hora local. Talvez saia
mais tarde, muito provável. Por ora, abri uma cervejinha (o litrão tá mais
barato que no Brasil, dá-lhe crise da zona do Euro!), abri um Doritos
tira-gosto, e pus Cole Porter pra rolar na vitrola (you tube). Oras, isso lá é
momento de criticar governos ou dar lição de moral?
Ontem
fui a um bar e sentei-me a uma mesa com gente do Brasil, Escócia, Inglaterra,
Estados Unidos e França. Não consegui me sintonizar muito bem na conversa, com meu
inglês enferrujado, e a cabeça meio chumbada do esquenta solo que tinha feito
em casa. Tô aqui todo esse tempo só falando castellano (meia-boca); inglês com
a música alta do bar não tava com nada.
O que
salvou foi que a música alta do bar, que em dado momento era o “Quebra-cabeça”
completo. Álbum antológico do Gabriel, o Pensador, presente em todas as casas
brasileiras que tinham algum moleque nascido entre 1980 e 1990. Tenho muita
facilidade pra dormir, mas me lembro claramente de uma noite, sei lá que idade
tinha, em que no dia seguinte ia ao recém-falecido Play Center, (estamos
ficando velhos, “Geração Play Center”!), fiquei a noite toda acordado de
ansiedade e colocava pra tocar várias vezes seguidas a “Festa da música
tupiniquim, que tá rolando aqui na rua Antonio Carlos Jobim...”, que era a
musica que eu mais gostava.
Claro
que fiquei muito feliz ontem quando começou a tocar as músicas do
quebra-cabeça; minha cabeça bêbada pensando: “nunca que quando escutei isso
pela primeira vez imaginava que ia escutar as mesmas músicas num bar a
trocentos quilômetros de distância, com gente do mundo todo, numa época em que to
investindo na minha formação. Caramba (eufemismo), vou ser médico!”.
Se
Barcelona estivesse no Brasil seria a melhor cidade do mundo. Moraria nela
facilmente. Mas fica muito caro morar aqui e ir ver os amigos e entes queridos
com certa frequência. Claro que se fosse no Brasil (provavelmente) nunca
chegaria a ser a cidade que é, mas enfim. Penso que digo isso só porque é a
primeira vez que fico tanto tempo sem ver ninguém que conheço. Durante todas as
viagens e períodos da minha vida, eu tinha ao menos uma pessoa bem próxima ao
lado. O máximo de dias que fiquei por conta própria foram dois. Êta saudade
braba! Ainda mais pra um “facebookless” por opção, como eu.
Mas é
bom também, com o distanciamento conseguimos ver as coisas cotidianas através
de uma perspectiva mais pura, sem influência alheia. “Pense por você mesmo”. É
o quarto mandamento de uma série de 10, que escrevi numa cartolina que fixei na
parede do meu quarto em Floripa. Estando aqui, isso não só é muito possível,
como a única opção.
Como
num período sabático, afora meu estágio com um grande mestre em comunicação
clínica e entrevista motivacional, hoje, por exemplo, tive tempo de assistir (youtube,
grande you tube!) uma palestra de quase 2 horas da Marilena Chauí, e quase
terminei um livro do Valter Hugo Mãe, que achei que não ia conseguir terminar
nunca (é muito bom, mas difícil), 190 páginas em mais de três meses. Talvez
bata algum recorde com esse ritmo.
Can
Cargol (Casa Caracol, em catalão) é o nome da república em que estou morando
durante minha estadia por aqui. Pessoal alternativo, tem muito a agregar a um
paulistano, morador do sul do país, acostumado a convenções e tecnologias
facilitadoras (“nem sempre o mais fácil é o mais correto”– Mário Sérigo Cortella)
. Vamos acampar em Menorca, uma das Ilhas Baleares, no fim do mês. Ah, e vou
assistir a um jogo da Champeons League, além de participar de uma manifestação,
próxima terça-feira, reclamando dos impostos abusivos que a Catalunha paga ao
governo espanhol, e também reivindicar a independência, claro.
Bom, a cerveja
tá acabando, o teclado já tá bem lambuzado por causa dos dedos sujos de Doritos
e saliva, e a noite barcelonesa está a espera. Hasta luego.
Barcelona, 08 de
setembro de 2012
2 comentários:
Grande Fumassa!
FIquei um tempo atrelado ao mundo pokerístico e acabei por ventura me distanciando desse blog, entretanto quando volto e vejo que você está em Barcelona fiquei muito feliz! Sempre buscando novas experiências e nunca se acomodando, esse é o espírito da vida ;)
Vi um vídeo ontem e lembrei muito de você. Espero qualquer hora te passar o jeito de ver um vídeo (ele é privado, então não terá acesso no youtube), mas eu acho que vale muito a pena !
Aproveite sua viagem meu velho, e quando voltar com certeza terá grandes histórias para nos contar!
Abração!
Renan
Grande fumi!!!
Que felicidade em ler uma cronica sua, das mais agradaveis por sinal. Cada vez escrevendo melhor. Posso imaginar os doritos, a musica alta, a rua antonio carlos jobim que todo mundo ta querendo e nao tem hora pra acabar.. E ainda mais imaginar sua vivencia, tao rica, para voce, para seu crescimento, para sua satisfacao. Pensei em ler seu blog qnd estava tocando regra tres e lembrei de vc e dos tempos de floripa, mas sem querer deixa-lo triste, abri sua pagina, resolvi escrever. Aqui tudo esta naquela mesma desordem e loucura que vc ja sabe.. Talvez com uma pitada a mais de trabalho e a menos de "paciencia" em relacao a "vida", rsrs quero voltar logo pro sul, para o meu brasil. E ai, conseguiu o contato c ignasi? Mandei sms p ele mas parece q ele ta ausente do facebook, tanto qnt vc, hehe bem, fica o meu abraco e saiba q ta sendo aqui lembrado com uma boa bossa, daquelas que soh eu e voce sabemos tocar!! Talvez o outro joao tbem se encaixe.. Ou vinicius, o romantico.
Ahh, ao invez do porter, da uma olhada no chet baker, jazzista da meeeelhor qualidade. E coloque esta vitrola pra tocar, trilha sonora da nossa vida. Abracao meu irmao
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