sábado, 25 de agosto de 2012

Novo episódio da eterna busca


Ultimamente anda me dando vontade de rever vários filmes, reler vários livros, reescutar vários discos e rever algumas pessoas. Anda parecendo-me que tudo o que temos que entender já nos foi apresentado, mas passou despercebido por termos os olhos, mente e coração destreinados. E mais: em última análise, tudo o que precisamos entender desenvolve-se a partir de nós mesmos, já somos o pacote completo, e as experiências e vivências, nosso manual de instrução. As vezes temos que ler alguns capítulos inúmeras vezes para entender o nosso funcionamento.
Achei muito interessante quando uma amiga recentemente me contou que acha ter acertado na escolha de fazer residência médica em pediatria, pois, diz ela, é incrível o quanto aprendemos com as crianças. Isso me fez até avaliar a análise de um filósofo e educador que gosto muito, Mário Sergio Cortella, quem diz (inclusive no título de um livro seu) que “Não nascemos prontos”. Ora, tudo na natureza, os demais elementos, funcionam de forma intuitiva, automática, pois não tem intelectualidade. Somos nós também parte da natureza, logo, nascemos sabendo o que fazer. Podemos não ter boa memória disso, mas no começo tinhamos muito mais certeza do que fazer. Crianças sabem o que fazer!  Sabem se divertir, sabem reclamar por alimento quando precisam, tem criatividade para resolver seus conflitos. Daí, somos inseridos numa sociedade que nos faz pensar e agir de forma pouco natural e quando chegamos à fase adulta, já perdemos todas essas capacidades infantis e achamos o máximo como agem as crianças e os velhos, esses últimos, depois de muito penar na fase adulta (a meia idade, que pode muito bem ser comparada a idade média, como situada historicamente, a fase da decadência, das trevas) voltam a entender como deveríamos ter levado a vida o tempo todo.
                
Em poucos dias embarco para Barcelona, é grande a expectativa. Mas...expectativa de quê? De que aconteçam muitas coisas? De que eu aprenda coisas que de outra forma não aprenderia, de que viva experiências que em outro lugar seria impossível? De que tudo seja uma grande festa, baderna, pessoas diferentes, sei lá, esperar de tudo um pouco. Mas e se não for nada disso? Pode ser tudo calmo e tranquilo, normal, e isso também pode ser muito bom. Pode ser que eu volte querendo assistir mais Woody Allen, lendo mais Tchekov e Cristovão Tezza, agindo exatamente da mesma forma, com as mesmas pessoas. E provavelmente isso é o que melhor tem a acontecer, independente da intensidade da viagem. Será preocupante se no final eu entender que devem acontecer mudanças drásticas na forma como levo a vida.

As mudanças tem de ser lentas e graduais. Conheço pessoas que mudam radicalmente depois de certa experiência, seja uma viagem, um relacionamento, algumas aulas, enfim. O resultado disso é que a pessoa se torna uma caricatura da projeção que tem do “ideal”, e fica eternamente à sombra de sua autêntica essência. Física e mentalmente perdida no tempo e espaço, é percebida desta forma por qualquer pessoa a sua volta, menos por ela mesma.
As viagens, as leituras, as canções, as vivências e convivências, são objetos de reflexão. É triste vivermos isso tudo com medo de errar. Erros e acertos são dois lados da mesma moeda. O que vale é a experiência. Isso não quer dizer que devemos ficar alegres se erramos o tempo todo. O erro por si só causa certo sofrimento, mas é bom na medida em que é um agente inevitável, companheiro ubíquo, que quando tratado da forma ideal (= corrigido), serve como motor evolutivo. Seguiremos errando em alguma medida (que bom!).
Pois bem, só erra ou acerta que sai do lugar. E sair do lugar não implica necessariamente em fazer grandes viagens. É um pouco sobre tudo o que diz um famoso poema de Edson Marques, mas atribuído a Clarisse Lispector (como quase toda citação descontextualizada) chamado “Mude”. http://www.artelivre.net/html/literatura/al_literatura_edson_marques.htm

Ademais, é um pouco triste pensar que nos tempos atuais, a curiosidade, um dos maiores gatilhos na busca de novas verdades, esteja direcionada a coisas tão pequenas, como pormenores (e na maioria das vezes, depreciativos) da vida alheia, o que não costuma agregar nada a ninguém. Seria interessante se as pessoas tivessem um pouco mais de curiosidade sobre qual o papel que lhes cabe no mundo, e desta forma, como costumava dizer outro grande filósofo, Jorge Angel Livraga, deixar o mundo um pouco melhor do que o encontramos.
                 
Esta investigação é eterna e mutável. Barcelona: o próximo episódio da minha.

domingo, 12 de agosto de 2012

Lições Olímpicas


Pois bem, os Jogos Olímpicos de Londres chegaram ao fim. Esqueçamos o quadro de medalhas, se o usarmos como instrumento de análise, teremos de lançar mão a várias variáveis e um turbilhão de explicações/subterfúgios possíveis não vão ajudar a mascaram o óbvio: que somos uma nação constituída em sua maioria por pessoas mentalmente desequilibradas (“pipoqueiros”, mesmo).
Os competidores brasileiros são apenas um reflexo de como age toda a nação em seu cotidiano. Culpá-los pelo fracasso é como xingar o cobrador do ônibus pelo preço da passagem ou pela qualidade da frota viária. Quantas vezes as equipes ou atletas brasileiros tiveram a chance de vencer, mas por um revés no meio da partida, não tiveram a capacidade de reverter a situação? Nossa capacidade de reação frente a adversidades é quase nula, só conseguimos nos dar bem quando a situação é extremamente favorável.
                
Alguém realmente acha que se o momento não fosse bom, Lula teria sido um bom governante? Qual a educação que ele recebeu para isso? (Veja, não estou falando sobre ter ou não ter ensino superior). Seja qual for a vocação de uma pessoa, seja ela a de liderança ou de conduzir bem uma bola de futebol, ela tem de ser amparada pelo bom desenvolvimento dos potenciais latentes do ser humano. Estou falando de atenção, concentração, inteligência (física, intelectual e EMOCIONAL), criatividade, entre tantos outros.
A educação tal qual a concebemos atualmente nas escolas está muito longe de nos ensinar essas coisas. E nem mesmo esta que aí está recebe os investimentos adequados.Para isso, há de se mudar urgentemente a noção de progresso que hoje está em voga. Conceito este que está intimamente atrelado ao poder financeiro e ao consumismo (é para isso que as pessoas se preparam: para saber aquilo que lhes dará mais dinheiro). De que adianta dizer agora que a maioria da população brasileira é pertencente a classe média, se o principal índice objetivo disso é o aumento estratosférico de pessoas obesas, sobretudo as crianças?
Colocar dinheiro na mão de pessoas mal-educadas (de acordo com o conceito supracitado, independente da classe social) é totalmente contraproducente. Quanto mais dinheiro, mais se gasta, e apenas com “bens” de consumo. O resultado é uma nação composta por famílias mal estruturadas, ora sem a mínima condição, nem para nutrir a prole, ora com filhos obesos, que literalmente cagam e andam para o que deve realmente ser feito, e que, no máximo, ajudam a manter nosso “status” de nação com mais horas por mês nas redes sociais (belo título, hein!).
                
Alias, como escreveu certa vez Carlos Heitor Cony: “Sem poupar a verdade, a honra alheia, a decência mínima que todo o cidadão deve cultivar, a internet está servindo como cloaca de ressentimentos, inveja, calúnias, impotência existencial, fracassos profissionais, constituindo-se numa mídia clandestina e irresponsável, onde vale tudo.” Certamente não é neste meio que encontraremos a educação necessária para mudar alguma coisa.
Não tenho dúvidas de que existem pessoas muito boas, que enxergam todo o cenário, mas como disse Martin Luther King: “Para que o mal vença, basta que as pessoas boas não façam nada” e o que eu vejo ao meu redor é exatamente isso, nem mais nem menos. Pessoas realmente boas, que dizem saber o que é certo fazer, mas não fazem nada. Daí, um ou outro posta uma charge (tem de ser charge, porque se for texto ninguém presta atenção) falando sobre alguma corrupção do governo no Facebook, e acha que está fazendo seu dever como cidadão, sem se dar conta de que ele mesmo já está corrompido há tempos. Não me excluo do contexto, mas estou tentando.

“Sou brasileiro, não desisto nunca” (?). Mal conseguimos reconhecer que a renúncia é um dos nossos maiores vícios. Entre atletas e obesos, se continuar do jeito que está, seguiremos "pipocando na missão".

sábado, 4 de agosto de 2012

De plantão na escrita (sexta-noturno/ 3º horário)


(Antes de tudo: parabéns, minha amiga Camilinha, aproveite muito seu dia)

Acabei de chegar da festa Junina (força de expressão) da 07.2, minha turma de medicina que está há menos de um ano da formatura. Pra ser mais exato, acabei de chegar do HU, depois do March e Guigo terem suturado a perna do Thiagão, que num golpe de azar e desatenção canelou um certo desnível lá na ACM.
Não sei o porquê dessa necessidade de escrever, mas agora tenho sentimentos muito bons, e compartilhá-los não vai fazer mal a mim nem a ninguém.
 Hoje me emocionei ao ouvir dois grandes amigos e grandes seres humanos, Ricardo (Repolho) e Ronaldo, levantando a hipótese de serem médicos de família. São, acima de tudo, caras de uma inteligência ímpar, e pessoas de um caráter irretocável, que não precisam provar nada pra ninguém, e que me fizeram ganhar a noite pela simples possibilidade de investirem numa causa que eu há algum tempo aprendi a acreditar: a Medicina de Família e Comunidade.
Sinto-me bem por estar em casa e não estar muito bêbado depois de uma festa. Sinto-me bem pelos abraços e palavras sinceras que troquei hoje. Sinto-me bem por saber que serão poucas as pessoas que lerão esse texto; não pelo número em si, mas por saber que as que ainda acessam este espaço são as que saberão entender um pouco melhor as coisas que escrevo e suas razões de ser.
Hoje fechei de fazer dois plantões no feriado de novembro em troca de uma grana que me possibilitará pagar três meses de prestação da Kombi que a galera da Rep (Real República Tcheca) tá comprando (alias, ideia de quem? Né não, Julio!), e eu to fazendo questão de ajudar. Só fico imaginando as festas e viagens com ela, pô...vai ser "Stronda"!
Toda vez que saio pra festa lembro-me da galera da Rep, não tem jeito. Fico uns dias sem ver e sinto saudade como se fosse da minha família, que, alias, nesses dias ando sentindo bastante falta. O Pingo tá doente, a Vó Teresa morreu...as vezes o telefone não é suficiente.
 Por falar nisso, esses dias tentei ligar pro Kendi, pra ver se ele anda acompanhando o Palmeiras, e não consegui. Ê muleque que faz falta...do mesmo jeito que o Mestre, o Castor e o Mek, que faz tempo que não vejo. Do Gui não preciso falar, é hours concours.
 De qualquer jeito, não deixo de aparecer na rep, afinal, naquele lugar não tem bode nem tristeza. Não a toa que eu e o Fer ficamos até as 6h da manhã no meio da semana tomando cerveja (será essa a hora de parar, Vitor? Hehe) e ouvindo samba, falando de Tarantino a Chico, na companhia do Whisky, que ridiculamente quis dormir as 3h40.
É, o Joãozinho vai mesmo vir morar comigo e com o André, que noticia boa! Por essa e por outras fico pensando o tempo todo que tenho muita sorte. Mas não posso jogar a responsabilidade para o acaso. Tudo na vida tem uma causa, às vezes o que acontece é que a gente não consegue enxergá-la. E ainda perdemos a chance de tentar aprender com nossos acertos, dizendo que foi tudo uma casualidade. É, ou não é, Marcus?
Acho que tenho estado na hora certa e no lugar certo. Isso inclui estar sentado escrevendo às 4h da manhã, estar amanhã no plantão da cirúrgica, correndo com o Chami ou o Cauê no domingo a tarde, ou, como disse o Ronaldo hoje, imaginando estarmos nós todos, incluindo ele, eu, Repolho e o grande mestre Paulo Poli, lutando por um mesmo ideal. 

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.