Dias atrás conversei com uma pessoa que me contou que seu
sobrinho ganhou de presente um iPad. Falava com alegria da facilidade com que o
menino utilizava o aparelho, da destreza e movimentos intuitivos com que abria
e fechava aplicativos e conseguia sempre executar os comandos que desejava. O
único problema é que vez ou outra ele resolvia dar outras funções para o
equipamento: em vez de concentrar-se na tela, resolvia arremessá-lo longe ou
mesmo mordê-lo. Mas era compreensível, pois ele tinha recém completado dois
anos.
A
pessoa não disfarçava o orgulho que sentia da esperteza do sobrinho, até me
mostrou uma foto em seu iPhone da criança olhando para a tela de seu presente e
apontando o dedo para lá. No entanto, queixava-se de que ele nunca deixava
pegá-lo no colo, apesar de, depois da mãe do menino, ela se sentir a pessoa mais
próxima a ele. Beijos e demonstrações de afeto então, nem pensar.
Sou de
uma geração em que nossos pais começaram a comprar computadores quando éramos pequenos.
Meus pais compraram o primeiro (para uso da casa) quando eu tinha oito anos.
Até então eu já tinha muitos amigos, joelhos ralados, coleção de figurinha,
bola de gude, e uma bicicleta “da hora, de 18 marchas!”. Foi legal quando o
computador chegou, mais o PaintBrush, que era a maior diversão, perdia de longe
para os amigos da escola e da rua.
Os
computadores e o mundo virtual chegaram às nossas vidas particulares sem que tivéssemos
muita orientação de como poderíamos realmente nos beneficiar deles. É bem óbvia
a praticidade e dinamicidade que eles proporcionaram em nossas atividades
laborais, mas para muitos, o “Personal Computer” aos poucos foi deixando de ser
uma ferramenta, um meio, para tornar-se um fim em si próprio.
Resultado:
boa parcela da minha geração, que hoje esta começando família e a terem filhos,
estão apresentando de forma completamente alienada (alienação = ação sem
reflexão) esses dispositivos à sua prole, antes que eles tenham contato com o
mundo, pessoas, situações reais e estão achando isso uma maravilha, até porque eles mesmos
(os pais) ainda não tem discernimento do real propósito de adquirir um aparelho
desses. Mas numa sociedade democrática como a nossa, onde qualquer um faz o que
bem entende, "se eu quero e posso, por que não devo?"
Não vou
discorrer sobre o uso ponderado dos aparelhos eletrônicos, da internet, ou das
redes sociais, até porque a forma com a qual eu os utilizo fica muito aquém de
seu verdadeiro potencial. Mas consequências desse tipo de atitude por parte dos
novos pais são de fácil conclusão. Isso é um processo real e em curso, acho
pertinente uma boa reflexão sobre o tema. Onde queremos chegar? Tem tanta gente
que se diz preocupada com o mundo que deixaremos para nossos filhos, mas o que
importará isso, se o mundo em que eles decidirem viver não for mais este?