domingo, 6 de junho de 2010

Pré-jogo (Copa 2010)

Falta uma semana para o início da Copa do Mundo. O motivo de maior comoção nacional e demonstrações de patriotismo. Nada contra. Há quem fique criticando o fato de que só nos orgulhamos de ser brasileiros nesta hora, que deveríamos seguir o exemplo dos americanos, que sustentam 365 dias do ano a bandeira hasteada no jardim de casa. Que se realmente amássemos a pátria, não haveria tanta corrupção, desmatamento etc. Passo longe dessa trupe que gosta de cornetear o espírito da nação, o negócio agora é futebol.
Hora de pintar o meio-fio de verde e amarelo, de pendurar bandeirinhas entre os postes de iluminação das ruas, tempo de colecionar figurinhas e nunca completar o álbum, mesmo roubando dezenas do bolo de repetidas dos amigos distraídos (esse é o meu caso; naturalmente, não nos dias atuais). Época dos memoráveis bolões, nos quais na maioria das vezes aquele cara sem noção alguma, que se você perguntar pra que time o cara torce, ele responde “Brasil”, costuma ganhar e deixar a turma que vive acompanhando campeonatos regionais, Champions League e até mesmo o Showbol, que simula centenas de vezes os resultados da Copa desde que sai o sorteio das chaves, extremamente putos da vida.
Passeando pela cidade, vi menos ruas e casas pintadas, menos alegorias e penduricalhos por aí. Acredito que isso seja diretamente proporcional à empolgação do povo com a seleção convocada pelo técnico. Desta vez, não há quem ache que o Dunga acertou em cheio nos selecionados. Pior, nem perto disso chegou. Como muito bem observou o Xico Sá na sua coluna semanal, se o futebol fosse comparado à literatura, até meados de 70, o futebol arte da seleção conferia um “quê” de poesia, ao passo que nosso estilo atual não passa de uma sofrível auto-ajuda. “Futebol moderno”, dizem alguns.
A seleção brasileira hoje não possui nenhum Romário de 1994 ou Rivaldo e Ronaldo de 2002. Definitivamente o time não empolga. Como vibraremos quando estivermos perdendo, ou o Kaká se machucar e do banco surgir Júlio Batista? Ou Josué?! Ademais, se a nação do futebol, detentora de maior número de títulos mundiais, e que é a maior exportadora de talentos para o mundo, tem entre seus titulares o Elano, devo rever de forma urgente meus conceitos futebolísticos.
Criticas à parte, inevitáveis nessa altura do campeonato, sabemos que quando chegar a hora, independente de quem estiver lá com a bola nos pés, nos reuniremos na casa de quem tiver a maior televisão da turma, com a picanha no fogo, cervejinha no freezer e o coração na mão, torceremos apaixonadamente pela seleção, ouvindo o Galvão e seu “aguenta coração”, (porque a gente critica o sujeito a vida toda, mas é incapaz de assistir jogos do Brasil em outro canal) e no íntimo ainda pedindo para que o time adversário faça um golzinho, pois assim acertaremos o resultado do bolão.
Em uma semana entraremos num estado hipnótico que durará quase um mês, mas que vale a pena, é só de quatro em quatro anos. Não é a toa que, quando vemos alguma comemoração exagerada, logo associamos “parecia até a copa!”. A Espanha é a favorita, a Holanda e a Argentina estão muito bem. Será que vai dar? O coração começa a acelerar, falta pouco, já sou capaz de ouvir: “Bem amigos da Rede Globo, voltamos em definitivo...”

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Quem sou eu

Médico da atenção básica de Sombrio - Santa Catarina. Escreve para o site da prefeitura, neste blog e eventualmente em outro veículos. Estuda filosofia. Toca violão e alguns outros instrumentos, nenhum verdadeiramente bem.